cartas de (intenso e físico) amor de james joyce

morgana feijão
7 min readDec 20, 2020

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então.

resolvi traduzir algumas das famosas cartas de amor depravado de james joyce para nora barnacle. minha escolha entre o que traduzir e o que não traduzir foi bem básica: joyce era bastante escatológico (fico até com pena dele que realmente nasceu na época errada, o que esse homem faria com “2 girls, 1 cup”?) e eu sou bastante travada (perdão, leitores, pelo meu pudor que contamina o trabalho!); então algumas cartas em que ele enfatizava o seu amor por, hm, gases e fezes foram intraduzíveis por mim (embora haja algumas menções levíssimas a isso nas que eu traduzi).

minha única nota tradutória é que resolvi traduzir a cena do seedcake kiss de ulysses ontem, e ao pesquisar o trecho em inglês no bot de ulysses do twitter, vi que havia um retweet com comentário — na cena, joyce descreve os seios de molly com “fat nipples”, e a pessoa comentou que uma forma de estragar qualquer sensualidade era adicionar a palavra “fat” a uma descrição do corpo. o joyce usa muito a palavra “fat” nas descrições e nos anseios dele do corpo de nora. até nas ocasiões em que eu poderia traduzir como grossas — fat thighs, por exemplo — eu escolhi usar gordas. os desejos de joyce são por carnes transbordantes. e isso é delicioso.

eis aqui, então, quatro cartinhas de james joyce, nosso devasso preferido, para a sua amada musa inspiradora.

À NORA
Dublin, 2 de dezembro de 1909.

Meu amor por você me permite orar para o espírito da beleza e da doçura eternas espelhadas em seus olhos, ou empurrar você para baixo de mim nessa sua barriguinha macia e foder você por trás, como um porco montando uma porca, glorificando-se no próprio fedor e suor que sobe do seu cu, glorificando-se na forma aberta do seu vestido revirado e das suas anáguas brancas de menina, na confusão de suas bochechas ruborizadas e de seus cabelos emaranhados. Me permite explodir em lágrimas de amor e pena por qualquer mera palavra, me permite tremer de amor por você ao soar de qualquer corda ou cadência musical, ou ao deitar invertido com você, sentindo seus dedos carinhosos e cosquentos no meu saco ou enfiando-se em mim por trás e seus lábios quentes chupando meu pau enquanto minha cabeça está presa entre suas coxas gordas, minhas mãos agarrando as almofadas redondas da sua bunda e minha língua lambendo ávida sua boceta vermelha. Eu ensinei você a quase desmaiar ao ouvir minha voz cantando ou murmurando para a sua alma a paixão, a dor e o mistério da vida e ao mesmo tempo, ensinei você a fazer sinais vulgares para mim com sua boca e sua língua, a me provocar com toques e barulhos obscenos, e até mesmo a fazer, na minha presença, o mais vergonhoso e imundo ato do corpo. Lembra-se do dia em que você subiu suas roupas e me deixou deitar sob você, olhando para cima enquanto você fazia? Nesse dia, você teve vergonha até mesmo de olhar nos meus olhos.

Você é minha, querida, minha! Eu a amo. Tudo o que escrevi acima é apenas um momento (ou dois) de loucura brutal. A última gota de sêmen nem foi expelida na sua boceta antes que ele termine, e meu amor verdadeiro por você, o amor dos meus versos, o amor dos meus olhos pelos seus estranhos olhos sedutores, vem em rajadas sobre minha alma como um vento de especiarias. Meu pau ainda está quente, rígido e trêmulo do último impulso brutal que deu em você quando um hino exaurido é ouvido, emanando em dócil e penosa adoração por você, dos claustros mais sombrios do meu coração.

Nora, minha fiel querida, minha colegial devassa de olhos ardentes, seja minha puta, minha amante, o quanto você quiser (minha cunhãzinha! minha putinha!), você sempre é minha bela flor selvagem das sebes, minha flor azul escura encharcada de chuva.

JIM.

À NORA,
Dublin, 3 de dezembro de 1909.

……., aparentemente, você me transforma numa besta. Foi você, você mesma, sua garota depravada sem vergonha, que iniciou o caminho. Não fui eu quem tocou primeiro você, lá atrás, no Ringsend. Foi você quem escorregou sua mão para baixo e para baixo, dentro das minhas calças, puxando minha blusa gentilmente para o lado, tocando com seus dedos longos e cosquentos meu pau, gradualmente segurando-o por inteiro, gordo e rijo como estava, na sua mão, friccionando devagarzinho até eu gozar pelos seus dedos, o tempo todo curvando-se sobre mim e me encarando com esses seus olhinhos santos. Foram seus lábios os que primeiro murmuraram uma palavra obscena. Eu lembro bem daquela noite na cama em Pola.

Cansada de se deitar sob um homem, uma noite você arrancou sua blusa violentamente e ficou sobre mim, montando-me nua. Você prendeu meu pau na sua boceta e começou a cavalgar, para cima e para baixo. Talvez minha ereção não tenha sido grande o suficiente para você, já que lembro de você curvada para me encarar, murmurando ternamente “Fode, amor! Fode, amor!”

Nora, querida, eu estou morrendo de vontade o dia inteiro de fazer uma ou duas perguntas. Permita-me, querida, porque eu lhe contei tudo o que já fiz, então posso perguntar em retorno. Quando aquela pessoa, cujo coração eu almejo parar com o disparo de um revólver, colocou a mão dele, ou as mãos dele, sob suas saias, ele apenas fez cócegas por fora ou colocou um dedo, ou alguns dedos, dentro de você? Se sim, os dedos foram longe o suficiente para sentir aquele pauzinho no final da sua boceta? Ele tocou você por trás? Ele passou muito tempo acariciando você e você gozou? Ele pediu a você para tocá-lo, e você obedeceu? Se você não o tocou, ele gozou contra você e você sentiu?

Outra pergunta, Nora. Eu sei que eu fui o primeiro homem a meter em você, mas algum outro já havia masturbado você? Aquele garoto que você gostava fez isso alguma vez? Me diga, Nora, verdade verdadeira, honestamente. Quando você estava com ele no escuro à noite, seus dedos nunca, nunca, desabotoaram as calças dele e se arrastaram para dentro como ratos? Você nunca o tocou, querida, diga-me a verdade, nem ele nem ninguém? Você nunca, nunca, nunca, sentiu o pau de um homem ou de um rapaz nos seus dedos até me desabotoar? Se você não se ofender, não tenha medo de me falar a verdade. Querida, querida, agora à noite eu tenho uma ânsia tão selvagem pelo seu corpo que, se você estivesse aqui ao meu lado, mesmo se me dissesse com sua boquinha que metade dos imbecis ruivos de Galway te foderam antes de mim, ainda assim, eu correria pra você com desejo.

JIM

À NORA
Dublin, 6 de dezembro de 1909.

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Eu gostaria que você usasse anáguas com três ou quatro babados, um sobre o outro, na altura dos joelhos e sobre as coxas, com grandes laços carmim nelas, digo, não anáguas de colegiais com bordas de renda finas e desgastadas, mas apertadas nas pernas e tão estreitas que a carne se mostra com um bumbum cheio e solto e pernas arqueadas, toda babados e rendas e fitas, e perfumadas com tanto gosto que sempre que você as mostrasse, fosse puxando sua roupa apressadamente para fazer algo ou se aninhando lindamente para ser fodida, eu pudesse ver apenas uma massa disforme de branco e babados, e então quando eu me curvasse sobre você para abri-las e dar-lhe um beijo quente de luxúria no seu traseiro safado, eu pudesse sentir o perfume das suas anáguas como também o odor quente da sua boceta e o cheiro pesado da sua parte de trás.

Eu choquei você com as coisas imundas que lhe escrevi? Talvez você pense que meu amor é algo sujo. E sim, é, querida, em alguns momentos. Eu sonho com você em poses obscenas às vezes. Eu imagino coisas tão vis que eu não as escreverei até ver você escrevê-las. As menores coisas me dão uma enorme ereção — um movimento lascivo da sua boca, uma pequena mancha marrom na brancura das suas anáguas, um súbito palavrão saindo de seus lábios molhados, um súbito barulho feito pela sua traseira e um fedor subindo de lá. Nesses momentos, eu fico maluco de vontade de fazer aquilo de alguma forma suja, de sentir seus lábios devassos me chupando, de foder entre seus dois peitinhos rosados, de gozar na sua cara e esguichar sobre suas bochechas rubras e seus olhos, de prender meu pau na sua bunda e sodomizar você.

Basta per stasera!

Espero que você tenha recebido meu telegrama e o entendido.

Adeus, minha querida a quem estou tentando degradar e depravar. Como, por Deus, você consegue amar algo como eu?

Oh, estou ansioso por sua resposta, querida!

JIM.

À NORA
Dublin(?), 13 de dezembro de 1909.

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Eu ficaria maravilhado em sentir minha pele formigando sob sua mão. Você entende o que eu quero dizer, Nora, querida? Queria que você me batesse ou até mesmo me açoitasse. Não de brincadeira, minha querida, mas a sério e na minha pele nua. Queria que você fosse forte, forte, querida, e que tivesse um busto cheio e orgulho e grandes coxas gordas. Eu amaria ser açoitado por você, Nora, amor! Amaria ter feito algo que você não tivesse gostado, algo trivial, até, talvez um dos meus hábitos imundos que fazem-na rir: e então ouvi-la me chamar para o quarto e encontrá-la sentada numa cadeira, suas coxas gordas separadas e seu rosto vermelho de raiva, com um bastão em sua mão. Vê-la falar o que eu fiz de errado e então, com um movimento de ira, me puxar para perto de você e me jogar com o rosto pra baixo sobre seu colo. Sentir suas mãos rasgando minhas calças e roupas de baixo, levantando minha blusa, estar lutando sob seus braços fortes e no seu colo, senti-la se curvando (como uma freira raivosa batendo na bunda de uma criança), até seus peitos enormes quase me tocarem e senti-la açoitar, açoitar, açoitar perversamente minha carne nua e trêmula!!

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JIM

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